terça-feira, 5 de setembro de 2006

A CONCHA DA INÉRCIA


Recentemente estive lendo novamente "Musashi", de Eiji Yoshikawa. Como sempre acontece quando releio este livro, fui surpreendido com uma passagem que traduz perfeitamente meu estado de espírito atual. Dessa vez, trata-se de um sentimento (aliás, uma ausência de sentimento) que aflige meu espírito de tempos em tempos e o qual comumente chamamos de "inércia".

Apesar de seus efeitos colaterais serem facilmente identificados, a inércia é um estado difícil de ser definido, pois sua natureza é mais subjetiva do que se supõe. É difícil explicar em poucas palavras o que esse estado representa, e justamente por isso me surpreendi com a definição clara, concisa e objetiva que o Eiji Yoshikawa deu sobre a inércia em seu romance.

Em determinado capítulo do livro, Musashi, sofrendo com um surto de inércia, diz: "(...) Parece-me que fui de encontro a uma parede e chego a pensar que estou acabado. Essa incapacidade de agir é uma espécie de doença que me devasta uma vez a cada dois ou três anos. Nessas ocasiões, costumo contra-atacar, fustigar meu espírito, que quer se render à lassidão, romper essa dura concha de inércia e sair. Uma vez fora, descortino um novo caminho, por onde sigo outra vez sem hesitar. E então, três ou quatro anos depois, torno esbarrar numa nova parede, e sou acometido uma vez mais pela mesma doença."

Mais adiante, Eiji Yoshikawa continua abordando o tema, agora em off: "A angústia dos acometidos pelo mal da inércia só pode compreender quem já a experimentou alguma vez. Ócio é algo com que todo ser humano sonha. O mal da inércia, entretanto, fica longe da agradável sensação de descanso e paz que o ócio proporciona: quem por ele é acometido não consegue agir, por mais que se empenhe. Mente amortecida e visão embaçada, o enfermo debate-se na poça do próprio sangue. Está doente, mas o corpo não apresenta alterações."

"Batendo a cabeça na parede, sem conseguir recuar ou progredir, preso num vácuo imobilizante, a pessoa sente-se perdida, duvida de si mesma, despreza-se, e por fim chora."

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